Devir-inseto
Há muito que se aprender com os insetos. Em seu Glossário de transnominações em que não se explicam algumas delas (nenhumas) ou menos, Manoel de Barros apresenta algumas matérias de poesia. E acerca dos insetos tece uma bela teia:
Inseto, s.m.
Indivíduo com propensão a escória
Pessoa que se adquire da umidade
Barata pela qual alguém se vê
Quem habita os próprios desvãos
Aqueles a quem Deus gratificou com a sensualidade
(vide Dostoievski, Os irmãos Karamazov)
Mas é de Kafka que me lembrei e do devir-inseto de Gregor.
Até uma lesma passa na frente de Barros e deixa seu rastro:
Lesma. S.f.
Semente molhada de caracol que se arrasta
sobre as pedras deixando um caminho de gosma
escrito com o corpo
Indivíduo que experimenta a lascívia do ínfimo
Aquele que viça de líquenes no jardim
No cancioneiro popular brasileiro também há uma boa referência e reverência aos insetos:
Bichos escrotos (Titãs)
Bichos escrotos, saiam dos esgotos
Bichos escrotos, venham enfeitar
Meu lar,
Meu jantar,
Meu nobre paladar
A idéia de um devir-inseto também era apreciada por Deleuze que a associava à experiência molecular. Os insetos por serem minúsculos fabricam fendas muitas vezes imperceptíveis e, através delas, minam os terrenos, invadem territórios, desabam estruturas. Potência extraordinária para seres tão ínfimos.
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